Os ‘’X’’ sentidos

Conhecendo além dos 5 sentidos Aristotélicos e como é interessante analisar nossas sensações.

Afinal, quantos sentidos temos?

Somos fascinados com a nossa própria natureza e as possibilidades das experiências sensoriais que vivenciamos. Comecemos com o primeiro filósofo a tratar dos sentidos da maneira como conhecemos hoje, e comecemos na Grécia Antiga, com Aristóteles. Os cinco sentidos clássicos -visão; tato; olfato; paladar; audição- comumente utilizados até hoje tomaram partido com este filósofo em meados de 350 a.C. A pergunta que eu faço é, como que tanto tempo se passou e ainda consideramos nossa avaliação dos sentidos como limitadas a apenas estes cinco, que notoriamente não fazem jus a tudo que sentimos?

Visão, audição, tato, olfato e paladar. Mas desde este tempo remoto sentíamos diretamente outras coisas também, sentíamos por exemplo, dor física. Porém este não foi elevado ao cargo merecedor de ser um sentido à parte, e foi tratado erroneamente como uma ‘’aflição da alma’’. Isto porque estamos limitados aos apenas cinco mais conhecidos, estes quais nunca mais foram reavaliados.

Outra curiosidade é que, o termo ‘’sexto sentido’’, também é considerado de maneira errada até hoje. O que na verdade é nossa intuição, ganhou fama com este nome e é coloquialmente considerado um sentido para muitos, porém fisiologicamente não temos receptores para tal. A intuição é, na verdade, tida pelos neurocientistas e psicólogos behavioristas como inferências de experiências prévias, resultado de processos cognitivos muito bem estruturados e não de estímulos sensoriais.

Retomando, para realmente entendermos as possibilidades dentro do mundo dos sentidos, precisamos desvendar o que são afinal: a sensação e a informação sensorial traduzida -a percepção.

Recebemos a sensação por meio dos nossos órgãos do sentido, o estímulo é captado e transformado em informação sensorial levado para o cérebro, onde acontece então sua interpretação, que chama-se percepção. A percepção atribui significados a estes estímulos que recebemos, dentro do nosso espectro de vida e contingências pessoais, os quais analisamos individualmente, porém de certa forma também padronizada por questões sociais e culturais.

Contudo, o que considera-se hoje é que nossos órgãos do sentidos existentes vão além dos cinco conhecidos -olhos, orelhas, pele, nariz e língua. Por exemplo, a percepção humana além da proposta aristotélica que eu considero coerente e apta para substituição, é a do entendimento dos sistemas perceptivos de Gibson. Ele transforma os cinco sentidos em sistema auditivo, sistema visual, sistema paladar-olfato (unifica os dois em um só), sistema háptico (considera o tato e outras percepções oriundas do órgão da pele, como dor, prazer e temperatura) sistema básico de orientação (que engloba sensações de movimento e equilíbrio).

Ainda, alguns sentidos hoje são considerados de maneira mais específica e seletiva, porém abordados sem consenso mútuo entre os estudiosos da área, como: propriocepção (sentido motor e de orientação espacial); equilíbriocepção (relacionado ao equilíbrio); termocepção (relativo à temperatura); nocicepção (específico para percepção de dor); sistema vestibular (equilíbrio também e posição da cabeça) e outros como interocepção (sensações viscerais dos órgãos internos para prazer, fome, etc).

Filósofos e cientistas intrigam e questionam, será que nossos sentidos, as sensações que experimentamos e também a informação sensorial que recebemos, ou a forma como interpretamos estes sentidos e informações, são acuradamente reflexos dos estímulos? Ou nosso conhecimento do mundo é inerentemente subjetivo e impreciso? Talvez nunca iremos saber, mas é interessante de se pensar.

Referências deste texto são os livros ‘’Princípios de neurociências’’ de Eric Kandel, et al. e  ‘’The senses considered as perceptual systems’’ de James Gibson.