Níveis e funções do design

Acredito que pouca gente sabe -a não ser entusiastas do design ou profissionais da área, mas a partir do momento que nos deparamos com design, mais especificamente o design de produtos, ele poder interagir conosco de diferentes maneiras. O design possui três modos de nos maravilhar ou nos afastar, isto é, de absorver ou não a nossa atenção.

Esses modos que citei, são chamados de funções ou níveis, e eles são -ou pelo menos devem, ser pensados na fase de criação de projeto. Se ao menos duas destas funções/níveis conseguem captar o seu interesse, é provável que você já goste do que vê, porém se as três conseguirem te conquistarem, é difícil perder o encanto. E porque isso acontece?

Na classificação das funções, elas são conhecidas como função prática, função estética e função simbólica ou, por níveis: nível comportamental, nível visceral e o nível reflexivo, respectivamente. Sendo assim, a relação que temos com os produtos e ambientes são todas determinadas por nosso índice de compatibilidade com essas três funções ou níveis, e isso acontece porque aqueles conversam com a gente e o modo percebemos o entorno é ou não cativado por estas características.

A função prática -nível comportamental- diz respeito a relação entre o usuário e objeto/ambiente pelo uso, o desempenho literal, aqui não cabe estética e sim se o elemento está cumprindo a função proposta ou esperada por ele. São relevantes então para um bom design comportamental: a função, a compreensibilidade, usabilidade e sensação física.

A função estética -nível visceral- trata de sensibilizar os sentidos, principalmente a visão. A aparência e a atratividade importam, o objetivo é seduzir o usuário. São, neste momento, primordiais a atenção à características formais, de textura, de coloração, de harmonia, de proporção, entre outros. O nível visceral é íntimo e profundo, pois se refere à vivências e impressões sensoriais. Envolve forma e conteúdo, valor estético e qualidade material, cultura e influências externas.

A função simbólica -nível reflexivo- percorre um âmbito mais intrínseco, remete a simbologias e à associações inerentes a todos os seres humanos, por meio de analogias e históricos pessoais. O significado atribuído na função simbólica é pessoal, ocorre de forma associativa e muitas vezes insconsciente.  O nível reflexivo é dependente de contexto, além de aspectos como experiências e lembranças, ele também abrange picos de intuição e a valorização da autoimagem. A mensagem do produto/ambiente se transforma aqui, e esta é a mais poderosa das três funções.

As três funções sempre existem e vivem concomitantemente em todos produtos e ambientes. Todos temos um dos três níveis mais aflorados, ou colocando em outras palavras, somos absorvidos por uma das funções com mais força normalmente, pois tendemos a priorizar o que valorizamos mais, de acordo com nosso repertório. Você já descobriu qual o seu viés mais forte?

E caso você esteja se perguntando o porquê da imagem de capa. Este é o mais famoso produto para estudo das três funções no design: um espremedor de limão de Philippe Starck. No nível comportamental ele funciona -espreme muito bem. No nível estético é irreverente, de material mais nobre que os espremedores tradicionais, questiona os sentidos, lembra um aracnídeo… serve para você? E no nível simbólico, tem valor intrínseco elevado pelo seu design criativo e foi criado por um designer de grande renome, porém você não suporta aranhas… e agora?

Referências deste texto são os livros ‘Design: história, teoria e prática do design de produtos’’ de Bernhard Burdek, ‘’Design emocional’’ de Donald Norman.