Chá com design: Os olhos da pele

70 páginas de um breve e profundo discurso sobre a patologia dos sentidos na arquitetura.

O autor, Juhani Pallasma, é arquiteto, e um arquiteto de muita sensibilidade para com esta área. No livro do Chá com Design de hoje ele enfatiza a perda do envolvimento multisensorial com os espaços em detrimento da prioridade que damos ao sentido da visão. Isto porque nossa visão é o sentido mais privilegiado, é ele que passa por cima de todos os outros, ele ganha sempre por sua vasta força e conteúdo.

Esta leitura procura enfatizar os demais sentidos como o tato, o olfato, a audição e até o paladar, para estes também serem tratados como fortes elementos de relação com os ambientes, tanto na arquitetura quanto no design de interiores. Para que estes sejam ainda mais envolventes que a visão -visando projetos que aprofundem os nossos sentidos.

Trazendo à tona o pensamento de que o predomínio dos olhos e supressão dos outros sentidos tende a nos forçar a uma alienação, ao isolamento, à exterioridade e porque não dizer, ao individualismo. A arte da visão, segundo o autor, sem dúvida, tem nos oferecido edificações e ambientes imponentes e instigantes, mas não tem promovido a conexão humana com o mundo.

O título –os olhos da pele– faz jus ao sentido do tato. Um sentido que é subestimado na maioria do tempo, mas que é de abundante importância. E, no âmbito da arquitetura e interiores, o autor cita com convicção que, nestes casos, o olho é o órgão da distância e da separação, enquanto o tato é o sentido da proximidade, intimidade e afeição. Pois o olho analisa, controla, investiga, enquanto o toque aproxima e acaricia à todos.

Ainda, ele destaca que durante experiências emocionantes e muito intensas, tendemos a barrar o sentido distanciador da visão; por isso fechamos os olhos enquanto dormimos, ouvimos músicas ou acariciamos nossos amados.

Portanto a visão revela o que o tato já sabe. 

Poderíamos considerar o tato como o sentido inconsciente da visão. Nossos olhos acariciam superfícies, curvas e bordas distantes; porém é a sensação tátil que inconscientemente  determina se essa experiência é prazerosa ou desagradável, de acordo com vivências anteriores. Aquilo que está distante ou perto é experimentado com a mesma intensidade -ambos se fundem com coerência.

É avaliando a hegemonia gradualmente obtida pelos olhos ao longo dos séculos, que o autor faz um paralelo com o desenvolvimento da consciência do ego e o paulatino afastamento do indivíduo do mundo físico, de todos os sentidos. Incentivando que a visão nos separa do mundo, enquanto os outros sentidos nos unem a ele, e que devemos buscar sempre uma conexão completa de todos os sentidos, em todos os ambientes que nos rodeiam.

Leitura  extremamente recomendada de Juhani Pallasma intitulada “Os olhos da pele“.