Arquitetura na cidade de Campinas

Uma cidade com prédios icônicos, mas que deve focar nos espaços de uso público.

Quem me acompanha há algum tempo, ou teve a oportunidade de conhecer um pouco da minha história sabe que os primeiros passos da minha trajetória profissional tiveram início em Florianópolis. Mas foi aqui em Campinas que o Olinto Design nasceu, e hoje sigo fazendo o que mais gosto, projetar para abraçar os espaços com carinho, criatividade e bem-estar. Por isso, nesse texto gostaria de falar um pouco sobre a arquitetura dessa cidade que me abraçou.

Gostaria de começar falando pelos prédios mais icônicos que temos por aqui e que seguem os elementos de uma arquitetura moderna. Mas vale lembrar que o movimento modernista chegou influenciando a arquitetura brasileira, especialmente em Campinas, entre as décadas de 1940 e 1960. Suas principais características são a redução de elementos decorativos, como ornamentos e a utilização de linhas e formas geométricas mais definidas em construções mais “limpas” visualmente.

Entre eles, estão o Palácio dos Jequitibás, espaço que abriga a Prefeitura, com arquitetura de Rubens Gouveia Carneiro Viana e Ricardo Sievers e o Edifício Itatiaia, o primeiro exclusivamente habitacional da região central, com arquitetura de Oscar Niemeyer. Sendo a única obra registrada oficialmente do renomado arquiteto na cidade, tempos depois foi tombada e se tornou patrimônio histórico em abril de 2011, impossibilitando, assim, que o saguão de entrada e o lado externo da construção possam sofrer modificações.

No que se refere as construções, o grande destaque é justamente para o Itatiaia. Ele é memorável por inúmeros motivos e os principais são porque ele segue os cinco pontos da nova arquitetura, publicados originalmente em 1926, por Le Corbusier na revista francesa L’Espirit Nouveau. São eles:

1- Os pilotis que elevam a massa acima do solo;

2- Planta livre, obtida mediante a separação entre as colunas estruturais e as paredes que subdividiam o espaço;

3- A fachada livre, o corolário da planta livre no plano vertical;

4- A janela longa corrediça horizontal ou “fenêtre em longueur”;

5- O jardim de cobertura que supostamente recriava o terreno coberto pela construção do edifício.

Segundo análises de projeto estrutural de diversos outros edifícios, foi constatado que somente o Edifício Itatiaia foi construído sob as novas exigências e princípios da arquitetura moderna, sendo que os demais, ainda seguem as técnicas tradicionais, embora o resultado plástico seja semelhante à linguagem do modernismo. Neste sentido, o Itatiaia é o único verdadeiramente moderno em Campinas, podendo ser considerado um marco na história arquitetura brasileira.

Apesar de importantes marcos arquitetônicos, infelizmente não se nota com muita frequência a preocupação em cuidar, ou mesmo acelerar o processo de revitalização de alguns patrimônios públicos. A tradicional mostra de decoração Campinas Decor faz isso, mas após seu encerramento, não me recordo de nenhum espaço ter sido reapropriado para uso público. Embora alguns prédios estejam em reforma por parte da prefeitura, muitos outros com grande potencial estão abandonados.

Avalio que a arquitetura acompanhou o progresso da cidade e sempre foi um diferencial para o crescimento dela, apesar da mistura de estilos que se vê devido a mudanças de planos diretores e provisionamento inadequado, talvez. A cidade continua com muitos investimentos arquitetônicos e cada vez mais o plano urbano se enche de arranha-céus, de uma forma próspera para o crescimento da cidade.

Porém, na minha opinião, existem falhas. Uma remete ao pensamento mais urbanístico em que a cidade peca em pensar melhor o lazer de seus moradores. Isto é, peca em repensar melhorias de parques já existentes e para novos espaços de uso público que envolvam natureza e bem-estar. Peca em não focar nos pedestres, apenas em automóveis; em pensar as edificações e não o uso dos bairros.

Outro fator, mais arquitetônico, é o abandono e falta de nova exploração para regiões antes muito conceituadas, como o centro da cidade, repleto de outros prédios icônicos que poderiam ser revitalizados, onde o comércio, limpeza, vegetação e cuidados maiores manteriam a cidade viva, a cidade ativa. E não apenas relocando os moradores para novas zonas de novas construções.

Essas críticas que faço para a melhoria de Campinas, acredito que seja algo que tenha que ganhar mais enfoque no debate público, não apenas para a preservação da história, mas para incentivar novos usos nestes espaços, algo que transforma a cidade e o senso de comunidade!